Amazônia: não somos só floresta, somos povo, somos gente.


Ando decepcionada com a grande repercussão que a preservação da Floresta Amazônica tem ganhado na mídia nacional e internacional. Quando digo que estou decepcionada estou me referindo ao fato de que os ambientalistas e defensores da floresta parecem esquecer que aqui, além de árvores e animais, temos também gente e que, portanto, uma identidade cultural que precisa ser respeitada.
Essa realidade só me chamou a atenção porque há pouco tempo participei da pesquisa acadêmica Identidade Cultural e Diversidade Amazônica: Um estudo na Comunidade das Pedrinhas, e fiquei impressionada com os resultados. Apesar de ser de pequeno porte a pesquisa mostrou o quanto a falta de investimento, por parte do poder público, em projetos sérios que promovam a cultura tem contribuído para o desaparecimento de nossa identidade.
Não são só os moradores da comunidade das Pedrinhas que não reconhece e se identifica com a cultura amazônica, somos todos nós. Além de não nos identificarmos com a nossa diversidade cultural, contribuímos para o seu desaparecimento.
A comodidade em aceitar e assimilar o que vem de outros estados e, até mesmo de outros países, nos cega. Chegamos a um ponto em que já não confiamos na energia de nossos pensamentos, já não acreditamos que podemos romper fronteiras e mostrar o quanto a cultura amazônica é importante para o Brasil e para o mundo.
A mudança é urgente e o envolvimento de todos é necessário. Precisamos de unidade, precisamos sentir orgulho de dizer “Sou da Amazônia”. Usar nossos colares e brincos de sementes naturais e esquecer os cristais e metais que vem de outras culturas, tomar açaí com farinha de mandioca e não misturado com granola e kiwi, comer peixe cozido na chicória e alfavaca e não com folha de louro e noz moscada, contar para os nossos filhos as historias de botos, curupiras e Yaras que escutamos de nossos antepassados e não da chapeuzinho vermelho. Dançar em uma roda de marabaixo ou carimbo e não pular dentro de uma boate ao som ensurdecedor de musicas americanas, deixar que os sons dos nossos tambores de batuque encham nossos ouvidos e acelerem nossos corações.
Somos da Amazônia sim e a Amazônia precisa ser respeitada. Não somos só floresta, somos povo, somos gente. A floresta precisa ser preservada e a nossa identidade cultural também. Vamos juntos lutar pela nossa preservação. Precisamos nos defender do contrário a floresta permanecerá de pé, mas a nossa identidade cultural será apagada.
Meu grupo de estudos detectou na pesquisa de campo o quanto nossa cultura vem sendo prejudicada, vem sofrendo mutações. Agora lançamos um desafio. Vamos nos unir para despertar o orgulho de pertencer a Amazônia. Para que isso aconteça, vamos sair da alienação e buscar mecanismos que garantam nossa preservação. Cobrar do poder público investimentos em projetos culturais sérios.
Vamos ter em mente que a cultura é transversal em todas as ações humanas, se é transversal em todas as nossas ações ela reflete no que somos, na nossa maneira de falar, andar, alimentar e vestir. Vamos pensar que, como diz MIRANDA, (2008), no artigo A cultura é a saída, da edição de junho do Le Monde Diplomatique:
"Para não perdermos nossa essência, é preciso proteger a diversidade; todas: a das espécies, dos pensamentos, das manifestações simbólicas, das opiniões, das idéias. Tornarmo-nos diversos implica olhar para o que somos, respeitar o que somos, já que o que somos é o universo todo"











Comentários

Anônimo disse…
Andei passeando por aqui. Estou surpreendido, que lindo minha querida. Você continua tão excepcional quanto lembro. A gente consegue ler a tua alma, lendo os teus textos. Como estas? o que andas fazendo? Estou com saudades de você de novo, muitas saudades, espero a tua vinda em Belém, tomara que desta vez a gente possa, finalmente, conversar. Vou falar de novo, você me deve isso e eu vou passar o resto da vida te pedindo a meia hora que me prometeste.
Anônimo disse…
Poucas pessoas conseguem colocar em palavras os sentimentos como você faz. Parabéns adorei os textos.
Anônimo disse…
Parece que ganhamos uma guerreira para defender a nossa cultura. Parabéns
Anônimo disse…
Que lindo Ara!
Adorei os textos, já te disse que sou teu fã? Vê se não some, você faz falta nas nossas rodas de bate papo.Beijos

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