Kayke

Meus olhos já não conseguem ver com clareza teus traços nas fotografias, as mesmas fotografias que insistias em esconder de mim porque, como dizias, te pertenciam. Não preciso de óculos para ver com clareza, enxergo com os olhos do coração, com os olhos da alma arrebentada de saudades.
Na nossa casa estão espalhados pedacinhos de ti, pedaços que são descobertos quando menos esperamos uma assinatura em um pedaço de papel esquecido na gaveta, uma pagina de livro rabiscada no paragrafo que estavas lendo, a chave da cozinha, um CD com teu nome escrito. Uma camisa, a cueca do Piu-Piu, lembranças tuas que nos fazem rir e chorar.
Quatro anos mãe, como a gente está aguentando ficar tanto tempo longe dele? Disse-me a Ariel dia desses na volta da aula, com os olhos brilhando com lágrimas que tentou esconder de mim. Quatro anos, penso eu neste momento, como estamos conseguindo seguir em frente?
Quatro anos, disse teu pai com o rosto retorcido de tristeza durante nosso evangelho especial pra ti.
Quatro anos, meu anjo, e nós seguiremos em frente porque é assim que tem que ser.
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Mariléia