Forte eu?
Araciara Macedo
Em um grupo de dez pessoas pelo
menos 02 nos dizem diariamente que somos fortes, somos? Vejamos, nascemos por
meio da dor de nossas mães, grande parte de nós convive desde cedo com
conflitos familiares, brigas, violência e aprendemos a nos defender antes de
aprender a namorar.
Na adolescência convivemos com os
conflitos da idade e dos hormônios, somos depressivas e nunca, nunca mesmo,
somos capazes de nos olhar no espelho e nos sentir bonitas, encontramos
espinhas, os cheiros da pele ficam diferentes, os pelos escurecem e crescem
demais, ou seja, nos sentimos monstrinhos, fora do contexto da vida.
Na nossa fase de adultas
convivemos com as incertezas da escolha da carreira a seguir, os namoros sérios
e platônicos. Somos capazes de estudar, trabalhar, ajudar a família e administrar
conflitos com amigos, namorados, namoridos e amantes.
Chega um dia em que decidimos
dividir nossas vidas com alguém que achamos, na grande maioria das vezes, muito
especial. Casadas vamos nos multiplicar para atender a casa, o marido, os
filhos, as cunhadas, os cunhados, cachorro, gato, periquito, papagaio e por ai
vai.
Administramos a casa, a carreira
do marido, os estudos dos filhos e nossas carreiras, conseguimos arranjar tempo
para frequentar academias, aulas de dança, salões de beleza e manicures, afinal
temos que permanecer belas e maravilhosas porque nossos maridos querem mulheres
com cara de atrizes de cinema.
Fazer tudo o que falei acima
cansa, cansa tanto que hoje eu tenho coragem de dizer pra todos vocês meus
queridos leitores, não sou forte, sou frágil e quero colo. Tenho carências,
acho que todas nós temos, quero um homem que me proteja, abra a porta do carro
pra mim, puxe a cadeira no restaurante, pague a conta em vez de dividi-la.
As feministas que me perdoem, mas
não sou feminista, sou feminina, quero rosas de presente, quero que a data do
meu aniversário seja transformada em uma data especial, que o primeiro beijo
seja relembrado. Quero um homem que adivinhe meus pensamentos, que me
transforme em deusa, que faça com que eu me sinta a pessoa mais especial do
mundo.
Forte sou na hora de defender
quem amo, mas quero alguém que me defenda, que parta pra briga cada vez que alguém
me olha de atravessado, que caminhe na minha frente para que o meu caminho não
seja tão árduo, que me acorde e me faça dormir com beijos e que me preencha por
completo.
Sei que confessando tudo isso
entro em conflito com o que as mulheres defenderam a vida inteira, vou gerar
uma guerra, mas também tenho consciência que devem existir milhares de mulheres
que pensam exatamente como eu penso.
Não quero ser igual aos homens,
fui criada de maneira diferente, meu corpo é suave e cheio de curvas, minha
pele é macia, não tenho barba ou bigode, minha voz tem outro timbre, se sou
diferente na aparência sou diferente também na maneira de pensar e agir e se
fomos criadas com suavidade porque lutar para nos equiparar aos homens e perder
essa suavidade que nos faz diferentes?
Somos intuitivas, agimos com o
coração, estamos sempre nos doando, somos seres plenos de riquezas, mistérios e
belezas. A cultura patriarcal fez de tudo para conter a nossa energia, uma
energia que assustava, assustava porque não era entendida, se não era entendida
tinha que ser domada, mas não conseguiram porque, como diz Chico Buarque não
temos medida e nunca teremos.
Tentaram nos dobrar, amassar,
rasgar a nossa alma feminina, para fazê-la caber no baú de uma cultura
inconsciente, para tornar o Feminino se não aceitável ao menos tolerável, não
conseguiram porque foram suplantados pela nossa suavidade, homem não vive sem o
nosso eu feminino. Eu quero continuar suave como uma pluma e feroz como um leão
para defender quem amo.
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